segunda-feira, 25 de março de 2013

CGU aponta fraude em hospitais do Rio


Uma auditoria da Controladoria Geral da União atinge em cheio o secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Sérgio Côrtes. O relatório aponta desvio de R$ 23,5 milhões em hospitais fluminenses e a maior parte do rombo num hospital, o Into, que foi comandado pelo próprio secretário. Leia, abaixo, a reportagem de Leonardo Souza e Hudson Correa:
Auditoria detecta desvios de R$ 23,5 milhões em cinco hospitais do Rio
A maior fraude ocorreu quando o secretário de Saúde do Estado, Sérgio Côrtes, comandava uma das unidades

LEONARDO SOUZA E HUDSON CORREA
Em qualquer supermercado mediano no Brasil, o litro do leite, integral ou desnatado, custa pouco mais de R$ 2. A garrafa pequena de água mineral pode ser facilmente encontrada por menos de R$ 1. Pelas regras básicas da economia, se a compra desses ou de quaisquer outros produtos se der em grande escala, no atacado, os preços tendem a ser menores. Mas essa lógica não necessariamente se aplica aos hospitais federais do Rio de Janeiro, onde um esquema formado por funcionários e donos de quatro empresas praticou fraudes em processos de concorrência durante anos. De acordo com uma nova auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) concluída em novembro, a que ÉPOCA teve acesso com exclusividade, cinco hospitais e órgãos federais ligados à saúde no Rio de Janeiro foram lesados em pelo menos R$ 23,5 milhões entre 2005 e o ano passado. Mercadorias superfaturadas, serviços pagos e não prestados e licitações de cartas marcadas estão entre os crimes detectados pela CGU.
No meio do imbróglio está o atual secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Sérgio Côrtes. Antes de ir para o governo, Côrtes dirigiu por cinco anos, de 2002 a 2006, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into). Foi no Into que se verificou a maior fraude, de R$ 21,2 milhões. As três empresas que participaram do esquema no Into foram contratadas na gestão de Côrtes e causaram prejuízo ao hospital ao longo de vários anos. Uma delas, a Padre da Posse Restaurante Ltda., chegou a ser dispensada de licitação – foi contratada a convite da direção do hospital. A Padre da Posse forneceu ao Into água mineral superfaturada, com sobrepreço de 219% por garrafa, de acordo com os técnicos da CGU. Enquanto cada unidade de 600 mililitros deveria sair por R$ 0,77, o preço cobrado do hospital foi de R$ 2,46. Ao todo, a Padre da Posse Restaurante desviou mais de R$ 3,8 milhões do Into ao fornecer mercadorias – além de água, outros itens de alimentação – acima dos preços de mercado.
O maior dano ao Into foi causado pela Rufolo Empresa de Serviços Técnicos e Construções Ltda., uma empresa cujo amplo campo de atuação inclui fornecimento de lanches, desinsetização, abastecimento de fio dental, manutenção predial, limpeza e conservação. Os técnicos da Controladoria identificaram contratação de serviços sem necessidade comprovada, serviços contratados sem a comprovação de que tenham sido prestados e preços aprovados de acordo com as propostas encaminhadas pela própria Rufolo, ou por outras empresas com vínculos familiares e societários com a Rufolo. De acordo com a CGU, os prejuízos causados pela Rufolo ao Into alcançaram R$ 16,9 milhões. Outra empresa que também fraudou o hospital foi a Toesa. Ela cobrou valores acima do mercado na locação de ambulâncias e veículos de passeio. O sobrepreço calculado pela CGU, nesse caso, foi de R$ 522 mil.
O Into é um centro de referência no tratamento de doenças e traumas ortopédicos de média e alta complexidade. Conta com um banco de ossos e administra uma enorme fila de espera por transplantes. Apesar de sua importância na área de saúde, não é a primeira vez que se encontra no epicentro de fraudes. A Procuradoria da República apontara desvios de R$ 6,4 milhões entre 1997 e 2001 e denunciara 11 pessoas por formação de quadrilha.
Diante do quadro de corrupção, um jovem cirurgião ortopédico assumiu o Into em 2002, com a missão de combater o esquema e evitar novos roubos. Exatamente ele, Sérgio Côrtes, então com 37 anos. Côrtes sofreu represálias. Foi ameaçado de morte, e seu gabinete teve de ser vasculhado após uma ameaça de bomba. Côrtes chegou a recorrer a proteção policial. Agora, a suspeita de fraude ronda justamente sua gestão no Into, que ele deixou para assumir a Pasta de Saúde do Estado e virar um dos secretários mais próximos ao governador Sérgio Cabral (PMDB).
Em abril do ano passado, Côrtes ficou conhecido por um motivo constrangedor. Foi divulgada uma foto em que ele aparece de guardanapo na cabeça, com o empresário Fernando Cavendish, amigo de Cabral e dono da construtora Delta, acusada de fraudes em contratos com o Poder Público. Ele também foi filmado ao lado de Cavendish e Cabral num show do U2. O deputado federal Anthony Garotinho (PR), que divulgou em seu blog a foto e o vídeo, disse que o show ocorreu em Paris, em julho de 2009, e que a festa do guardanapo aconteceu no restaurante de um hotel também em Paris, dois meses depois.
Procurado para falar sobre os desvios apontados pela CGU no Into, Côrtes afirmou, por meio de sua assessoria, que não teve acesso ao relatório da CGU e que cabe à atual administração do Into se manifestar sobre o assunto. Ele disse ainda que todas as contas de sua gestão foram aprovadas pelo Tribunal de Contas da União.
Todos os anos, a CGU realiza operações especiais e auditorias em prestações de contas de gestores federais. Em abril de 2011, ela iniciou uma auditoria especial em hospitais federais no Rio de Janeiro, com o objetivo de examinar contratos de serviços terceirizados em diversas áreas, como locação de mão de obra, alimentação, serviços de engenharia e aluguel de equipamentos. No curso dessas análises, a CGU já detectara irregularidades em contratos fechados pelas empresas Padre da Posse, Rufolo, Toesa e uma quarta companhia, a Locanty Comércio e Serviços Ltda.   
Em março do ano passado, o programa Fantástico, da TV Globo, denunciou um esquema de corrupção montado justamente por essas quatro empresas para tentar fraudar as licitações do hospital de pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Durante dois meses, um repórter gravou funcionários e donos dessas empresas oferecendo propina para vencer as concorrências. Em troca, diziam que forneceriam mercadorias e serviços a preços superfaturados. Em muitos casos, a valores muito acima dos preços de mercado, com margem para pagar a propina e ainda sobrar dinheiro para os corruptores.
Com base nessa denúncia, a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros e Desvio de Recursos Públicos (Delefin) da Polícia Federal no Rio de Janeiro, chefiada pelo delegado Victor Poubel, abriu um inquérito para investigar todos os contratos dessas quatro empresas com órgãos federais no Rio. Logo na fase inicial, foram ouvidas pela Delefin mais de 50 pessoas, entre os donos das empresas envolvidas no esquema e dirigentes dos hospitais e órgãos federais. Partiu também da Delefin o pedido para que a CGU realizasse uma nova auditoria em todos os contratos das quatro empresas com o governo federal. Foi a partir dessa solicitação da Delefin que a CGU concluiu o relatório a que ÉPOCA teve acesso, com a descrição das fraudes.
Apesar de tantos elementos levantados pela CGU, a equipe da Delefin está com as mãos atadas há quase um ano. O pedido de renovação do inquérito está parado desde abril do ano passado na 10ª Vara Federal Criminal do Rio, cujo titular é o juiz Marcelo Luzio Marques Araujo. Sem essa autorização da Justiça, a PF não pode dar continuidade às investigações nem rastrear eventuais pagamentos de propina aos servidores públicos.
Se a PF está impedida de agir na esfera criminal, na área administrativa a CGU fez seu trabalho. O caso que mais chamou a atenção dos técnicos da Controladoria foi do Into, pelos valores envolvidos e pela frequência das fraudes. Mas os trambiques praticados em vários outros hospitais da rede federal também mereceram destaque no relatório da CGU. Um deles ocorreu no Hospital Federal do Andaraí (HFA). Foi lá que se verificou o abuso no preço do leite descrito no início desta reportagem. A empresa Padre da Posse, a mesma que forneceu água superfaturada ao Into, cobrou do HFA R$ 5,52 pelo litro do leite, mais que o dobro do valor unitário de referência estabelecido pela CGU, de R$ 2,36.
O relatório da CGU chegou em janeiro ao Ministério da Saúde e está na mesa do diretor do Departamento Nacional de Auditoria, Adalberto Fulgêncio. Ele disse que aprofundará o levantamento sobre as fraudes e, numa segunda etapa, enviará fiscais aos hospitais e ao Into. Essa equipe de campo identificará, consultando toda a papelada das licitações, os funcionários públicos responsáveis pelo prejuízo ao Erário. “Os maus pagadores, que geralmente são servidores públicos, serão punidos, e recuperaremos o dinheiro público recebido pelas empresas. No caso do Hospital do Andaraí, já evitamos o pagamento”, afirmou.
ÉPOCA falou com o empresário Adolfo Maia, dono da Padre da Posse Restaurante. Ele disse que, no preço da garrafinha de água e no litro do leite, estão incluídas as despesas com serviços para distribuí-los aos hospitais. Ele negou fraudes. O advogado Fábio de Carvalho Couto, que defende a Rufolo na área criminal, afirma que não há provas materiais de que a empresa tenha fraudado licitações ou corrompido funcionários públicos. Os responsáveis por Toesa e Locanty não telefonaram de volta.


sexta-feira, 22 de março de 2013

Falta de médico causa tumulto em Hospital Federal de Bonsucesso

 

Ocorreu um bate-boca na porta do Hospital Federal de Bonsucesso, no Rio de Janeiro. Deputados estaduais que chegaram ao local para fazer uma vistoria foram impedidos de entrar. A unidade suspendeu os transplantes por falta de médicos. Nos últimos dias, duas crianças que esperavam por um rim morreram.

O bate-boca começou quando os deputados, que integram a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, foram barrados pelos seguranças. Com um tumulto tão grande, a polícia foi chamada.

Após mais de meia hora, o grupo conseguiu entrar para falar com representantes da direção do hospital. Os médicos pediram demissão alegando baixos salários e má condição de trabalho.

O Ministério da Saúde afirma que a equipe médica está sendo recomposta. Enquanto isso, pacientes são encaminhados a outros centros cirúrgicos. As crianças devem ser levadas para outros estados, já que o Hospital de Bonsucesso é o único do Rio de Janeiro que faz esse tipo de transplante.

quinta-feira, 14 de março de 2013

REDE D'OR ADMINISTRANDO DINHEIRO PÚBLICO

 O governo do estado inaugurou dia  4/03  o Hospital da Criança, unidade administrada pela Rede D'Or por meio de uma organização social de saúde (OSS). O serviço é dirigido a crianças e adolescentes até 19 anos e atende a casos cirúrgicos de câncer e ortopedia, além de transplantes de rim e fígado.
Com decoração repleta de cores e referências ao universo infantil, o hospital, localizado na Vila Valqueire, na zona oeste, não tem emergência e atenderá apenas a pacientes do SUS encaminhados de outras unidades de saúde, como o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) e o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Com o hospital, serão reforçados os transplantes infantis de rim e fígado, prejudicados desde o fechamento do setor de transplantes do Hospital Federal de Bonsucesso, em dezembro. O Hospital da Criança também vai ajudar a desafogar a fila do Into, com o atendimento de 120 pacientes que aguardavam há até cinco anos por cirurgias.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, o hospital tem capacidade de fazer 450 transplantes, 2,4 mil quimioterapias, 3,3 mil procedimentos cirúrgicos de alta complexidade e 8,4 mil consultas ambulatoriais anuais. Na unidade, os pacientes podem se submeter a tomografias computadorizadas, ultrassonografias, ecocardiografias e broncoscopias.
Também são oferecidos serviços de fisioterapia motora e respiratória, terapia ocupacional e apoio psicológico às famílias e pacientes. No total, são 58 leitos de enfermaria, 16 de unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal, nove de UTI pediátrica e oito poltronas de quimioterapia.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que participou da inauguração, disse que o governo federal vai arcar com cerca de metade do custeio do hospital, com o repasse anual de R$ 35 milhões ao governo do Rio. Padilha destacou que o hospital representa um salto no tratamento humanizado no Brasil.
"Tem que transformar o hospital, não em um lugar triste, mas um lugar feliz. O hospital, acima de tudo, é um lugar de vida, um lugar onde a gente salva as pessoas de uma situação de sofrimento e busca reconstruir a alegria. E nada merece mais esforço em reconstruir alegria do que as crianças".
Um dos destaques da decoração infantil é a máquina de tomografia, em forma de nave espacial, com luzes de LED representando estrelas e desenhos de crianças com roupas de astronauta. No elevador, os botões dos andares são apelidados de painel de controle e, já na recepção, muitas cores estão na bancada e pelas paredes do salão de espera.
O governador Sérgio Cabral defendeu o modelo de administração de OSS, que permite a entidades privadas participarem da administração de hospitais públicos: "O cidadão que vai receber a prestação do serviço quer é que ele seja gratuito. Ele não quer saber se a gestão é compartilhada, se é só de funcionários terceirizados... quer saber de resultado".
O Hospital da Criança ocupará o prédio do antigo Hospital Rio de Janeiro, unidade privada da Rede D'Or, que será responsável por contratar e treinar mais de 700 profissionais de saúde.

terça-feira, 12 de março de 2013

Transparência nos contratos com as organizações sociais envolvidas com a saúde pública


Precisamos ter acesso à esses contratos para saber quem são as pessoas que lucram com o sucateamento da saúde pública no Rio de Janeiro. Em outros estados diretores de OSs já foram condenados por mau uso de dinheiro público. No Rio, temos a pior saúde entre as capitais do país. Precisamos reverter essa situação!
As OSs diminuem o controle do Estado sobre a qualidade do serviço de saúde, sendo que o dinheiro gasto com elas é dinheiro público, então a gestão deve continuar pública!
É fundamental lutar para que o prefeito e governador e seus respectivos secretários de saúde expliquem quanto é pago para que as Organizações Sociais estejam exercendo o papel que cabe ao estado e foi garantido pela Constituição de 1988 através do SUS!

Manifesto de Repúdio à Proposta do Governo Federal de Subsidiar os Planos Privados de Saúde

 
A Frente Nacional contra a Privatização da Saúde repudia o conjunto de medidas que, segundo notícia veiculada na Folha de São Paulo em 27/02/2013, o Governo Federal prepara desde o início do ano e que amplia a trilha da privatização da saúde em curso, através da radicalização do favorecimento já amplo ao mercado de planos e seguros de saúde.
Na reportagem é relatado que a própria Presidenta, pessoalmente, vem negociando com grandes empresas que atuam no mercado de planos privados de saúde – a maioria controlada ou com grande participação do capital estrangeiro e grandes doadoras da campanha presidencial de Dilma Rousseff – um pacote de medidas que transferirão mais recursos públicos para suas já vultosas carteiras através de redução de impostos, novas linhas de financiamento e outros subsídios a expansão do seu mercado.
Tal proposta consistiria na prática em universalizar o acesso à saúde das pessoas através de planos e seguros privados, e não através de serviços públicos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O preceito constitucional da saúde como direito é ferido mortalmente, ao ser substituído por uma abordagem da Saúde como mercadoria a ser mais amplamente consumida, especialmente para as chamadas classes C e D, para impulsionar o atual modelo de desenvolvimento.
Esta pode ser a formalização final para a instituição de um seguro saúde e criação de um Sistema Nacional de Saúde integrado com o setor privado, tendo como consequência acabar com o SUS ou torná-lo um sistema focalizado, consagrando o processo de universalização excludente que vem ocorrendo desde os anos 1990 com a saída dos trabalhadores melhores remunerados, que foram impulsionados à compra de serviços no mercado privado devido ao sucateamento do SUS. Esse movimento faz parte do mesmo processo de aprofundamento da subordinação do país ao grande capital financeiro, atrelado aos interesses do imperialismo. Contra fatos não há argumentos: há um crescimento no número de usuários de planos de saúde de 34,5 milhões, em 2000, para 47,8 milhões, em 2011, tendo o Brasil se tornado o 2º mercado mundial de seguros privados, perdendo apenas para os Estados Unidos da América.
A referida medida que beneficia os planos privados é anunciada poucos meses depois da venda de 90% da AMIL, maior operadora de planos privados de saúde do Brasil, para a empresa norte-americana United Health, e do anúncio do seu fundador, Edson Godoy Bueno (um dos maiores bilionários brasileiros) da meta destes planos atingirem 50% da população brasileira, ou seja, duplicar a sua cobertura para 100 milhões de brasileiros. A estratégia anunciada pela United Health para o Brasil é crescer entre o público de baixa renda.

Tal política não responde aos interesses da maioria da Nação: sistemas de saúde controlados pelo mercado são caros, deixam de fora idosos, pobres e doentes; são burocratizados e desumanizados, pois as pessoas são tratadas como mercadorias. Se o SUS hoje não responde aos anseios populares por uma saúde universal de qualidade, de acordo com a Constituição de 1988, não é pelas deficiências do modelo - há modelos de sistemas universais como Reino Unido e Cuba, amplamente bem considerados pela população e com indicadores de saúde melhores do que o sistema de mercado da nação mais rica do planeta, os EUA – mas porque os governos não alocam recursos suficientes, não cumprem a legislação e porque a democracia, expressa no controle da sociedade sobre o sistema de saúde, não é respeitada.
O que se constata é que o Estado está cada vez mais mínimo para o SUS e máximo para o mercado. A privatização desta vez não é de forma travestida de modernização da gestão, como no caso dos “novos” modelos de gerenciamento: Organizações Sociais (OSs), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), Fundações Estatais de Direito Privado (FEDPs), Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e Parcerias Público-Privada (PPPs). Ou mesmo na forma da complementariedade invertida, em que a rede privada, em vez de ser complementar à pública, tem absorvido 62% dos recursos públicos destinados aos procedimentos de alta e média complexidade, através de convênios e contratação de serviços da rede privada pelo SUS.

A atual inflexão, se confirmada, vaticina uma total derrota do Movimento da Reforma Sanitária, que na 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986) defendia uma progressiva estatização do setor, pois o inverso é que se materializaria. Tornar-se-ia absoluta, e em níveis nunca antes vistos nesse país, a tendência da nossa história recente de alocar cada vez mais os fundos públicos para o setor privado da saúde, em detrimento da ampliação do setor público para a garantia do direito de todos à saúde e do dever do Estado de prestar serviços à população.
Por que o governo tem recursos para subsidiar o setor privado, mas alega não ter para ampliar a rede pública de saúde? 
Por que o governo não atende às demandas dos movimentos sociais, das Conferências Nacionais de Saúde e dos Conselhos de Saúde para destinar 10% da receita corrente bruta da União para a saúde pública? 
Por que a regulamentação da Emenda 29 não trouxe recursos novos para o SUS como estava previsto? 
Por que se aprofunda a precarização da força de trabalho na saúde e a terceirização dos serviços de saúde? 
Por que se mantém a DRU (Desvinculação das Receitas da União)? 
Porque há uma Lei de Responsabilidade Fiscal draconiana e nenhuma lei de responsabilidade sanitária ou social? 
Por que não se respeita o controle social (Participação da Comunidade no SUS)?
A Frente Nacional contra a Privatização da Saúde tem empreendido lutas contra todas as formas de privatização que vem ocorrendo após os anos 1990. Contra o desmonte do SUS público estatal e às medidas do atual governo de fortalecimento do setor privado de saúde, a Frente reafirma suas bandeiras:
- Defesa incondicional do SUS público, estatal, universal, de qualidade e sob comando direto do Estado
- Contra todas as formas de privatização da rede pública de serviços: OSs, OSCIPs, Fundações Estatais de Direito Privado, Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares; e Parcerias Público Privadas
- Contra a implantação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), impedindo a terceirização dos Hospitais Universitários e de ensino federais
- Pela Inconstitucionalidade das Leis que criam as Organizações Sociais (OSs) e a EBSERH
- Defesa de investimento de recursos públicos no setor público
- Pela gestão e serviços públicos de qualidade
- Defesa de concursos públicos RJU (Regime Jurídico Único) e da carreira pública no Serviço Público
- Contra todas as formas de precarização do trabalho
- Pelo fim da Desvinculação das Receitas da União (DRU)
- Exigência de 10% da receita corrente bruta da União para a saúde
- Defesa da implementação da Reforma Psiquiátrica com ampliação e fortalecimento da rede de atenção psicossocial. Contra as internações compulsórias e a privatização dos recursos destinados à saúde mental via ampliação das comunidades terapêuticas
- Pela efetivação do Controle Social Democrático
- Por uma sociedade justa, plena de vida, sem discriminação de gênero, etnia, raça, orientação sexual, sem divisão de classes sociais!
FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE
Março de 2013

segunda-feira, 11 de março de 2013

Centro de referência em neurocirurgia e tratamento do Acidente Vascular Cerebral (AVC) deveria ser inaugurado em julho de 2012 e até hoje esta em obras


Projeto previa manter estrutura antiga da unidade com obras de adaptação de R$ 23 milhões


Há pelo menos oito meses as obras do Hospital Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e o Hospital da Visão estão atrasadas. Em janeiro de 2012, o governador Sérgio Cabral tornou de utilidade pública, para fins de desapropriação, o prédio e o terreno onde funcionava o antigo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), localizado na Rua do Resende, Centro. Com isso, a previsão era que o centro de referência em neurocirurgia e tratamento do Acidente Vascular Cerebral (AVC) inaugurasse em julho de 2012, após reformas para ajuste da atual estrutura, porém o prazo não foi cumprido. O terreno foi doado pelo Governo Federal em novembro de 2011.
A princípio, o projeto previa usar a estrutura já existente do antigo Into, com obras de adaptação de R$ 23 milhões.Em seguida, o projeto integral passou a ter custo de R$ 35 milhões de investimentos.
A administração da unidade seguirá o modelo de gestão compartilhada por Organizações Sociais (OSs) e os leitos serão referenciados pela Central de Regulação do protocolo de perfil neurocirúrgico.
Em nota a Empresa de Obras Públicas (EMOP), responsável pela obra, respondeu que a obra física do hospital está concluída e agora estão sendo instalados os equipamentos necessários para o funcionamento da unidade. A empresa não se pronunciou sobre o atraso da entrega da obra. A Secretaria Estadual de Saúde também não respondeu sobre a necessidade de demolir a estrutura de um hospital existente, para a construção de um novo. 
Secretaria Estadual de Saúde não respondeu a reportagem sobre necessidade de demolir a estrutura do hospital existente.

A segunda fase do projeto será a construção, no mesmo terreno, de um novo prédio que possibilitará a ampliação destes serviços e também a implantação do Hospital Estadual da Visão, para tratamento, por exemplo, de doenças como a catarata e também a realização de transplantes de córnea. Além de serviços de neurocirurgia avançada, tratamento da epilepsia e UTI exclusiva do protocolo do AVC. Serão abertos neste primeiro momento 44 leitos.
Ao final, a previsão é de 170 novos leitos na rede e centro de reabilitação. A previsão é que a partir do terceiro trimestre de 2013 toda a estrutura seja entregue à saúde pública do Rio de Janeiro
A doação do prédio do antigo INTO pelo Governo Federal para o Estado do Rio foi formalizada pela presidente da República, Dilma Rousseff, e pelo governador Sérgio Cabral em novembro de 2011.
Além da implementação de toda a rede de atendimento para o AVC isquêmico, o novo hospital também contará com uma moderna tecnologia de neurocirurgia com possibilidade de confirmação da extração de tumores via exame de ressonância magnética dentro do próprio Centro Cirúrgico.
"Temos informação de que somente um hospital da rede privada trabalha dessa forma em todo o Brasil. O que vamos fazer no Hospital Estadual do Cérebro será ainda mais moderno. Assim, pretendemos seguir garantindo que os nossos investimentos não só ampliem a oferta de atendimento na rede pública, mas garanta ao paciente SUS o que há de melhor no mundo", disse Sérgio Cortes.

Mortes por AVC
A criação do Hospital Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer dá continuidade aos investimentos que já vêm sendo feitos pela Secretaria de Estado de Saúde a fim de prevenir ou diminuir as mortes por AVC. Enquanto em 2006 foram feitas 16 mil tomografias/mês, ano passado esse número ultrapassou a marca de 186 mil tomografias em toda a rede estadual, sem contar o serviço móvel de exames de imagem. Os recursos na área se refletem na queda de casos de óbito por AVC isquêmico e hemorrágico. De acordo com informações de Indicadores e Dados Básicos para a Saúde (IDB 2010), há 11 anos as doenças cerebrovasculares eram responsáveis por mais da metade das mortes por doenças do aparelho circulatório. Em 2009, por exemplo, esse número caiu para 34%.
 
Rede estadual
Os Hospitais Estaduais Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, Azevedo Lima, em Niterói, e Getúlio Vargas, na Penha, são atualmente os três pólos de neurocirurgia da rede estadual de Saúde. Hoje, apenas o HEGV oferece o tratamento com trombolítico, que, no entanto, depende que o paciente perceba os sintomas e chegue à unidade em até seis horas.